terça-feira, 18 de junho de 2013

borboletas no estômago

Kátia não era uma moça romântica, mas sentia viver em seu momento mais romanesco. Não demonstrava, não se entregava em olhos furtivos, não permitia ao corpo falar. No entanto, era inevitável o que por dentro sentia. Seu corpo lhe falava internamente o quão exasperada ficava diante da sua presença. Sentia borboletas no estômago. Sentia cócegas e por isso sorria sem motivos, mesmo com todos os dilemas diários. Ele arrancava-lhe sorrisos sem precisar ao menos notá-la. Ele era a poesia que havia dentro da sua prosa realista, configurava-se como uma metáfora aguda dentro da sua linguagem popular. Havia beleza em seu mundo tão arraigado de pudores. Kátia percebeu que desconhecia a si mesma. Em sua correria, ela deixara de encarar a rotina como paralelepípedos que faziam-na cair. Kátia passou a romantizar tudo e seu mundo tornara-se outro, bem mais ingênuo e azulado. Kátia descobrira, então, que se encantar com alguém, apaixonar ou amar era a solução para tudo o que a atravessava. Portanto, decidira seguir sempre nesse romantismo porque, assim, esqueceria dos percalços da vida. E o rapaz? Seria apenas um instrumento para que ela alçasse vôos.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Olhares (díspares).


Haviam dois olhares, em que um deles desviava-se do outro. Com Zara era assim, um revirar para não mostrar-se inteira. Zara percebia nela uma provocadora delicadeza, daquele jeito pronto de quem se coloca sob sutilidades. Havia em Zara um entender o outro ou, particularmente, aquela que se atrevia a olhá-la. Havia naquela um dedicar-se intenso ao que Zara sem querer propiciava. Inclusive, Zara sentia-se desconfortavelmente estranha. Não sabia como lidar com famintos olhares femininos. Se na vida existia os ineditismos, era este o momento que considerava inédito na sua vidinha tão cotidiana. Zara não era linda, nem corpo violão nem alguma canção lírica. Aquela era exatamente o seu contrário e, nesse paradoxo, mais dúvidas lhe causava. As diferenças não eram meramente físicas, iam além de qualquer invólucro. Havia estranhamento e maestria em cada gesto ou atitude previamente pensada. Entre os olhares, o desvio. Entre os corpos, a semelhança. Entre os desejos, a disparidade.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Dor


Dor: palavra que descaracteriza qualquer pessoa. Havia dor naquele momento e pessoas desfiguradas em meio ao sentimento que lhes transbordava. Havia, também, sensações em mim que não me faziam crer na credibilidade do fato. Lágrimas escorriam comandadas pelo pensamento que hora e meia voltava em todas as lembranças e dias corridos. O acontecimento era algo repentino que nos arrancava do cotidiano e lançava-nos ao mais escuro. A fé, que movia montanhas, precisava mover a vida de cada um daqueles que estavam entre essas trincheiras do pensamento. Era necessário abstrair para não desfalecer. Era essencial acreditar que haveria um lugar melhor e que aquele dia estava marcado...coisas do destino. E é certo: contra o destino não se luta, apenas se aceita. Sei que é difícil, mas ainda não existem fórmulas para evitá-lo. Havia força junto com perspectivas e sonhos fragmentados, cancelados. Palavra que não possui disfarces: dor.

(Feito para o sarau da escola Yervant Kissajikian )

domingo, 31 de março de 2013

"Eu prometo"

Eu não sei se já te prometeram antes, se já olharam em seus olhos e disseram o quanto te amam, não sei se alguém  te disse que você é a vida dela...
Eu sei que eu mal cuido direito de mim, mas quero cuidar de você. Quero te ouvir quando algo estiver te sufocando, quero te dar conselhos, quero estar ao seu lado, enxugar suas lágrimas e dizer que tudo vai ficar bem. Entenda quando dói em você, dóis duas vezes mais em mim...Eu só quero poder cuidar de você!
Me dê seu coração? Eu prometo que cuidarei dele....

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

não o deixe fugir


Sinta do vento a doce carícia
trazendo-lhe a delícia
de um carinho de amor
Sinta esta brisa suave e morna
que com seu amor retorna
Viva esta emoção
que lhe dará vida ao coração
Ouça o ruído do vento
parece um triste lamento
por algum amor perdido
Ele chora, mas você tendo
do vento a companhia
a outro alguém logo amaria
Sinta o vento como que te abraçando
é esse alguém que está chegando
e logo estará te amando
Saiba o vento ouvir... sentir
E não deixe esse amor fugir.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

esse fim para nós


"É, talvez seja isso. Eu aqui, você aí. Talvez a vida tenha descruzado nossos caminhos de uma forma surpreendente, ou talvez eles não foram planejados pra serem traçados juntos. Quem é que sabe, não é? As vezes tudo que a gente precisa seja aprender a conviver um sem ou outro, um pouco mais fortes, mais frios quem sabe… E to escrevendo toda essa besteira com minha cabeça, mas quem sente é o coração. E se a vida guardou esse fim pra nós por que é que ainda estou quebrada? Por que ainda não consegui me reerguer sem ti? Se fosse pra ser assim, eu já não teria me conformado?
Não! Não é assim…"

Despedida

Eu disse que não iria me importar, tudo bem, não vou me importar, mas ás palavras não vou ignorar. Eu estava sentindo um vazio dentro de mim, sentindo que necessariamente precisava expor este vazio, ai resolvi usar ás palavras.
 Eu não sei bem quando isto começou, não sei como começou, mas eu sei que acabou e acabou de uma maneira que jamais achei iria acabar, doeu? Doeu! Dói perder pessoas que fizeram parte da sua vida, pessoas que esteve ao seu lado (não estou "dramatizando") dói saber que não vou mais ouvir, nem ler "Eu te amo" de você, mas sabe? Isto passa, porque como um simples raio, passa e bem rápido.
 Mas não tenho exatamente nada do que reclamar "Quando for uma despedida apenas acene e diga que tudo valeu apena" , mas é claro que tudo valeu apena....Que história não contem sorrisos, lágrimas, brigas, intrigas, ciumes? Além disto tudo amor, felicidade e amizade! Conteve tudo isto e até mais.
 Agora já não tenho mais o tal "porto seguro" , já não tenho mais o teu sorriso para me fazer sorrir, nem suas chatices e baboseiras....
Por que é tão difícil falar do fim? Não me dou bem com isto, não tenho palavras suficiente para descrever o que estou sentindo....Melhor eu finalizar, está tudo sem sentindo, assim como agora está minha vida sem você.
E mais uma coisa, seja feliz nesta sua nova vida! E quando quiser voltar, estarei aqui.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

No caos

Ultimamente, a vida tem sido um misto de serenidade, singeleza e sacrifícios. Há quem não saiba lidar com as irregularidades e os caos que a vida generosamente lhes dá. Há quem não saiba entender-se suficientemente. Sobriedade é uma palavra chave, pouca encarada nesse viver profícuo. Não se sabe se existem fórmulas para compreender tantos desenganos, tantas maledicências e faltas de sentido. E quer saber? Nem sei se é preciso entender tudo isso. Complexidades demais chegam a assustar, roubam-nos a ingenuidade que julgávamos ter. Querer se desvincular do caos é querer virar ao avesso e não conseguir retornar ao contorno original. Ultimamente, tenho tido medo de não desvirar e me perder nesse infinito que é ser eu e ser vida perdida, atrasada, desencaminhada. Que a singeleza e a serenidade prevaleçam, levando embora os sacrifícios e as faltas de sentido.

É difícil


É difícil. Sim, digo da vida ser difícil. Difícil lidar com situações consideradas injustas e sentir que está de mãos atadas. A pior dor é aquele que se sente no coração e é justamente dessa que não tenho conseguido escapar. Dói-me o peito e tal dor se expande por todo o corpo como um vírus. Alastra sobre o meu corpo as palavras que me joga, que me cospe e que por isso me devoram. É por isso que é tão difícil. A vida necessita de ginga, de rebolado. A vida precisa de swing [sem putarias, claro! - mesmo esta sendo muito boa]. A vida é um barco desgovernado e eu sei que preciso controlar minhas águas ou desgoverná-lo de vez. E essa dificuldade que nela se vê, acarreta em tristeza e amplia mais ainda essa não querida dor. Que das dificuldades, venha uma tempestade de boas vindas.

olhos


Meus olhos pesam,
carregando todo o si 
que sob a cabeça se encontra

Pesam seus enlaces, 
suas crenças e protuberâncias

Meus olhos, na impossibilidade,
querem se anular
vivenciando um mundo dentro de si

Fazer amor e sexo

Fazer sexo e fazer amor é muuuuito bom, posso até dizer que nos fortalece e rejuvenesce (caso já não sejamos jovens demais). Além do mais, nos abre o apetite para esses prazeres que só o corpo alheio pode nos oferecer. Creio, desde o princípio do meu desvirtuar, que fazer amor é entregar-se de corpo e alma. Em outras palavras, seria transar ou dar-se com todo sentimento que há em si. Uma transa daquelas de querer buscar cada parte do outro, descobrir cada zona erógena, desvendar no outro todas as possibilidades e com todos os sentidos, sentir naquele momento estar vivendo uma cena daquelas de filme com a melhor das trilhas sonoras e, ainda por cima, ficar sonhando e imaginando aquele momento estando junto ou não da pessoa. Uma transa assim é a forma que mais completa o querer bem, o gostar, o apaixonar e, quiçá, o amor. Já o sexo é a mera transa, dessas que podem ser selvagens e satisfazer todos os prazeres, que pode ser querer de novo porque uma dose a mais, às vezes, se faz perfeita. O fazer sexo é uma entrega sem envolvimento, algo que fica na satisfação carnal e cuja repetição nem sempre se torna necessária. Esse ato costuma ocorrer quando o ápice dos desejos carnais está em alta (com exceção das prostitutas que o fazem pelo merecido dinheiro). A diferença entre ambos, para mim, é justamente a carga emotiva que nelas está envolvida. Quando o casal é amigo e a transa acontece casualmente, há o risco disso vir a se transformar  em uma relação mais valorosa pelo fato de se conhecer totalmente o corpo do outro e isso vir a ocasionar outros desejos. Marçal Aquino, em Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, disse que "O amor é sexualmente transmissível" e eu o entendi de forma poética¹. Entendi que o  amor e o sexo são opostos até se completarem e tudo ficar uma lindeza de se ver (isso não significa que eles sempre se completam, mas que podem vir a se completar, pois basta haver a atração e admiração para que esse envolvimento concretize). Sei que esse tema é bobo, que todo mundo escreve sobre isso, que todo mundo também canta essa temática.. mas cada um o diz de seu modo, não somos iguais a ninguém. Diante disso, delícias do meu cora, se quiserem escrever um pouco das suas experiências e pontos de vista a esse respeito...estou aqui de braços e coração aberto no carol.sansana@hotmail.com esperando por vocês!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Eu queria ter e ser.

Eu queria ter uma vida menos confusa. 

Eu queria acordar vendo uma cachoeira, todo dia. 

Eu queria poder tomar banho nela quando quisesse. 

Eu queria poder parar de procurar o amor. 

Eu queria poder dormir abraçadinha com alguém. 

Eu queria poder morar dentro daquela musica do John Lennon. 

Eu queria poder abrir a janela e olhar grandes montanhas forradas de verde. 

Eu queria poder dizer que sou feliz. 

Eu queria poder dar aula numa escolinha no interior, pra um monte de criança inocente. 

Eu queria ter tipo uma mensagem que fizesse as pessoas desistirem de carrões, de grandes sonhos de consumo. 

Eu queria ter tipo o poder de convencer que as pequenas coisas são as mais gostosas. 

Eu queria ser tipo mais compreensiva. 

Eu queria ser tipo mais amiga. 

Eu queria ser tipo uma moradora de uma casinha dentro de um cenário qualquer. 

Eu queria acordar só mais um dia vendo meu pai e minha mãe juntos. 


Eu queria poder trocar o que conquistei por um único olhar daquela menina. 


Eu queria que minhas poesias a conquistassem. 

Eu queria que pessoas como o Renato e o Cazuza tivessem tido o que tanto cantavam, o amor. 

Eu queria ter conhecido o Renato, o João Antônio, o Raul Seixas e o Chico Science. 

Eu queria estar escrevendo o que eu queria ter um dia. 

Eu queria ter nascido num cenário do Star Wars. 

Eu queria ter conhecido a Emilia e o Visconde. 
Eu queria ter tipo um máquina do tempo, para poupar tanto sofrimento. 

Eu queria ter uma cabana, com gelo no teto e arvores em volta. 

Eu queria nem saber o que é dinheiro. 

Eu queria ser tipo uma mulher conquistadora. 

Eu queria ter a certeza que conquistadoras são felizes. 

Eu queria saber cantar. 

Eu queria acordar com um grande café da manhã na minha cama. 


Eu queria registrar aquele sorriso naquele dia para sempre. 

Eu queria poder saber o que será do meu povo amanhã. 

Eu queria poder saber porque ela não conseguiu ficar ao meu lado. 

Eu queria saber a fórmula de um grande sucesso. 

Eu queria saber porque a fórmula do fracasso é agradar todo mundo. 

Eu queria saber dizer mais coisas agradáveis. 

Eu queria um dia poder voar como um pássaro. 


Eu queria ser tipo uma frota contra o mal. 

Eu queria saber o que é o mal. 

Eu queria ser tipo uma mulher em que as idéias valessem algo. 

Eu queria ser tipo uma mulher que deixou algo pra alguém. 

Eu queria poder entender como os engravatados podem comer numa mesa onde o almoço é mais caro que o salário da maioria dos brasileiros e mesmo assim dormem tranquilos. 


Eu queria ser tipo um cara ingênuo, a ponto de acreditar em Papai Noel, duendes e na polícia. 

Eu queria ser tipo uma pessoa sem insônia, sem bronquite, sem dores tão fortes na alma. 
Eu acho que ainda queria ser só alguém num mundo legal. 

Eu acho que ainda queria ser aquela menina que não via as coisas como elas eram. 

Eu acho que ainda queria ser aquela chata que sempre levantava a mão primeiro na hora das perguntas. 

Eu acho que ainda queria ser mais uma da turma. 

Eu acho que ainda queria ter a esperança boba de achar que poderia fazer a diferença nessa bagunça de mundo. 


Eu acho que vou dormir. 

Eu também acho que amanhã bem cedo vou procurar realizar pelo menos algo disso tudo, e você o que acha? 

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Apaixonei-me

E hoje me deparei viajando no horizonte do seu olhar, que brilham como às estrelas, e pousei na doçura do teu sorriso, ali fixei-me nos pensamentos.
           Vou contar um pouco do que me fez se apaixonar por você....


Desde a primeira vez que te vi, encontrei-me diante do meu reverso, de tudo aquilo que conscientemente eu não buscava. Mas você me abriu para uma nova essência de mim.
Fui apresentada ao seu poder de sedução, mas não imaginava que ele seria tão eficiente. Pensei em recuar, mas mesmo não sabendo brincar nunca peço pra sair. Abandonar essa brincadeira por quê? Se depois de você nenhum dia foi igual ao outro e eu nunca mais fui igual a mim mesma.
Meu chão tremeu, meu coração disparou, minha pele aflorou e bastou o primeiro encontro para eu me olhar no espelho e rir com a mais deliciosa expressão despudoradamente feminina.
O que sinto por você é irracional e intenso. Um sentimento que invade a muitos. A paixão nos torna eufóricos, nos faz sorrir, mas também faz chorar. Tentamos compreender em voz alta, nos consultórios dos analistas, nas mesas de bar esse sentimento que vem junto para a solidão da nossa cama, onde transborda sem controle.
A saudade é uma presença. E como diria o poeta: é “tua ausência fazendo silêncio em todo lugar”.
Busco a vitória da paciência sobre a ansiedade. Mas sei que o amor aguarda o momento oportuno.
Talvez você não se lembre de nada disto, e talvez se lembre de coisas que eu já esqueci.
Não importa, o fato é que as razões pelas quais eu me apaixonei por você são inúmeras. Mas se eu listá-las talvez você ou outro alguém diga que eu estou exagerando.
Mas você é assim, corpo e alma, condizentes entre si.
Que você é a mulher mais linda isto é plenamente visível. Mas minha paixão olha muito além da tua beleza.
Teus gestos são meigos, tuas palavras são doces, teu olhar é profundo, tua inteligência é abrangente, tua garra é louvável, tua história é fascinante.
Você é surpreendente.
Apaixonei-me pela tua conversa. Ela me faz pensar.
Apaixonei-me pelo teu senso de humor. Ele me faz sorrir.
Apaixonei-me pela tua integridade. Ela me faz admirar.
Apaixonei-me pela tua força. Ela me faz acreditar.
Apaixonei-me pelo teu esforço. Ele me faz lutar.
Apaixonei-me pela tua essência. Ela me fez amar.
Apaixonei-me pela tua alma e ponto!
A lista é imensa e todos os dias eu tenho novas razões.
Mas talvez, a maior de todas as razões não esteja em você, esteja em mim, naquilo que você provoca em mim. Se estou apaixonada, estou viva e se vivo aprendo, se aprendo me torno melhor e melhorando vou me tornando mais completa.
Você NÃO é minha metade, mas me apaixonar por você me fez novamente INTEIRA.

Agora é hora de mudar

Cá estou eu, com minhas meras palavras, pouco sábias e sem sentindo. Finalmente o "esperado" 2013 veio à chegar, com ele novas lágrimas, sorrisos, esperanças, expectativas e objetivos, esse ano me propus a mudar, mas mudar de corpo e alma, impor propósitos, limites e barreiras, não estou "falando por falar", apenas cansei do mesmo e de se contentar com o "pouco" quero mais, mais amor, mais felicidade, mais solidariedade, seguir mais meus sonhos, ir adiante com tudo que sempre planejei e não aconteceu, apenas quero esquecer ás lágrimas o passado triste e aguardar na memória tudo de bom que aconteceu, todas às pessoas que entraram na minha vida, esse ano eu quero só alegria com uma pitada de loucura, sei que já é meio tarde, porém bem vindo meu caro 2013.

Para quem quer aprender a gostar


Talvez seja tão simples, tolo e natural que você nunca tenha parado para pensar: aprenda a fazer bonito o seu amor.
Ou fazer seu amor ser ou ficar bonito.
Aprenda, apenas, a tão difícil arte de amar bonito.
Gostar é tão fácil que ninguém aceita aprender.
Tenho visto muito amor por aí.
Amores mesmo, bravios, gigantescos, descomunais, profundos, sinceros, cheios de entrega, doação e dádiva.
Mas esbarram na dificuldade de se tornar bonitos.
Apenas isso: bonitos, belos ou embelezados, tratados com carinho, cuidado e atenção.
Amores levados com arte e ternura de mãos jardineiras.

Aí esses amores que são verdadeiros, eternos e descomunais de repente se percebem ameaçados apenas e
tão somente porque não sabem ser bonitos: cobram; exigem; rotinizam; descuidam; reclamam;
deixam de compreender; necessitam mais do que oferecem; precisam mais do que atendem; enchem-se de razões.
Sim, de razões. Ter razão é o maior perigo no amor.

Quem tem razão sempre se sente no direito (e o tem) de reivindicar, de exigir justiça,
equidade, equiparação, sem atinar que o que está sem razão talvez passe por um momento
de sua vida no qual não possa ter razão. Nem queira. Ter razão é um perigo; em geral
enfeia um amor, pois é invocado com justiça, mas na hora errada. Amar bonito é saber a hora de ter razão.
Ponha a mão na consciência. Você tem certeza de que está fazendo o seu amor bonito?

De que está tirando do gesta, da ação, da reação,do olhar, da saudade, da alegria do encontro,
da dor do desencontro a maior beleza possível? Talvez não. Cheio ou cheia de razões, você espera
do amor apenas aquilo que é exigido por suas partes necessitadas, quando talvez dele devesse
pouco esperar, para valorizar melhor tudo de bom que de vez em quando ele pode trazer.

Quem espera mais do isso sofre, e sofrendo deixa de amar bonito.
Sofrendo, deixa de ser alegre, igual, irmão, criança. E sem soltar a criança, nenhum amor é bonito.
Não tema o romantismo. Derrube as cercas da opinião alheia. Faça coroas de margaridas e enfeite a cabeça de quem você ama.
Saia cantando e olhe alegre. Recomendam-se: encabulamentos; ser pego em flagrante gostando;
não se cansar de olhar; não atrapalhar a convivência com teorizações;
adiar sempre, se possível com beijos,“aquela conversa importante que precisamos ter”; arquivar, se possível, as reclamações pela pouca atenção recebida.
Para quem ama, toda atenção é sempre pouca. Quem ama feio não sabe que pouca atenção pode ser toda atenção possível.
Quem ama bonito, não gasta o tempo dessa atenção cobrando a que deixou de ter.

Não teorize sobre o amor (deixe isso para nós, pobres escritores que vemos a vida como a criança
de nariz encostado na vitrina cheia de brinquedos dos nossos sonhos): não teorize sobre o amor; ame.
Siga o destino dos sentimentos aqui e agora. Não tenha medo exatamente de tudo o que você teme.
Como: a sinceridade; não dar certo; depois vir a sofrer (sofrerá de qualquer jeito); abrir o coração;
contar a verdade d o tamanho do amor que sente. Jogue pro alto todas as jogadas, estratagemas, golpes,
espertezas, atitudes sabidamente eficazes (não é sábio ser sabido): seja apenas você no auge da sua emoção
e carência, exatamente aquele você que a vida impede de ser. Seja você cantando desafinado, mas todas as manhãs.

Falando besteira, mas criando sempre. Gaguejando flores. Sentindo o coração bater como no tempo do natal infantil.
Revivendo os carinhos que intui em criança. Sem medo de dizer eu quero, eu gosto, eu estou com vontade.
Talvez aí você consiga fazer o seu amor bonito, ou fazer bonito o seu amor, ou bonitar fazendo o seu amor,
ou amar fazendo o seu amor bonito (a ordem das frases não altera o produto), sempre que ele seja a mais verdadeira expressão de tudo o que você é, e nunca: deixaram, conseguiu, soube, pôde, foi possível, ser.
Se o amor existe, seu conteúdo já é manifesto. Não se preocupe mais com ele e suas definições.
Cuide agora da forma. Cuide da voz. Cuide da fala. Cuide do cuidado. Cuide do carinho.
Cuide de você. Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar
do amor e só assim poder começar a tentar fazer o outro feliz. 

 Autor: Artur da Távola