segunda-feira, 20 de outubro de 2014

A capacidade de pensar é o que mais difere o ser humano dos outros animais. Penso, logo existo, diria Descartes. Penso, minto, logo existo, eu completaria. A mentira é um subproduto do pensar e está encravada na consciência humana. Somos educados e crescemos ouvindo e praticando mentiras diariamente. E talvez não houvesse possibilidade do convívio entre as pessoas se não existisse a mentira para amenizar algumas situações.
O cachorro, por exemplo. Ele jamais mente. Se gostar de uma pessoa, abana o rabo, fica perto, chama para brincar. Quando não gosta, late, rosna, morde. Ele não finge ser uma coisa que não é. Apenas demonstra, sem hesitar, o que está sentindo naquele momento. Com os outros animais também funciona assim, em menor ou maior sinal de demonstração.
Já nós, os evoluídos seres humanos, necessitamos da mentira. Por vezes ela serve como um conforto às inquietações. Por outras, para mascarar falsas felicidades, que aumentam ainda mais o ciclo da mentira em nossas vidas. Muitas pessoas fazem de suas vidas uma grande encenação, atuando de forma a convencer que sempre vivem maravilhosamente bem. São pessoas que usam a mentira em sua forma mais cruel, que é a de mentir a si mesmo.
Em diversas situações a “auto-mentira” se faz presente. São pais que sabem que suas filhas vão para as casas dos namorados, mas que fingem para si que elas estão com as amigas. São pessoas que fingem estudar enquanto estão com a cabeça em outro lugar, somente para dar uma satisfação de que fazem alguma coisa. Outras que fingem um altruísmo coletivo enquanto o egoísmo as corroem.
Homens e mulheres usam a mentira cada qual a sua maneira. As mulheres mentem mais nas amizades, tecendo elogios falsos umas às outras, sugerindo coisas que não gostariam para elas próprias. Homens mentem em relação ao trabalho, têm vergonha quando não estão no mesmo status que os amigos. Além disso, usam um bocado da mentira nos relacionamentos, que talvez não durassem uma semana se elas não fossem mesmo usadas.
É preciso saber dosar. Não há como ser verdadeiro todo o tempo, sob o risco de magoar pessoas queridas. Pense como seria ruim se uma amiga lhe perguntasse se está gorda? Por mais que você pense que sim, jamais pode falar isso na lata. A mentira pode e deve ser usada em algumas ocasiões, mas sempre de um modo moderado. Mentir ou omitir uma informação pode trazer a paz ou levar ao inferno. Mais importante do que mentir ou não, é saber até que ponto esta atitude interfere na esfera pessoal do outro e quais seriam as conseqüências reais caso tudo viesse à tona.

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